Aparentemente, dar um tempo para decidir o que fazer com seguranças que mataram um passageiro não é algo que precise ser apressado. Pelo menos foi essa a lógica seguida pela ViaMobilidade, que só demitiu seis agentes de segurança mais de 20 dias depois de uma abordagem que terminou com a morte do desempregado Jadson Vitor de Sousa Pires, na estação de trem de Carapicuíba, na Grande São Paulo. E não, não foi por falta de “tempo” para pensar – até que o Bom Dia SP botou a boca no trombone.
Imagens fortes e violência desnecessária
O caso, que já tinha imagens de agressores usando força desproporcional em um homem aparentemente vulnerável, virou um pesadelo para todos os envolvidos. O rapaz morreu em meados de novembro por asfixia mecânica (ou seja, ele foi estrangulado, sem charme algum). As imagens mostram a violência dos seguranças enquanto carregavam Jadson desacordado para fora da estação, em uma cena que só faltou música de filme de terror.
Em entrevista à TV Globo, André Costa, o diretor da ViaMobilidade, tentou justificar o atraso com a famosa expressão “sindicância aberta”. Como assim, só depois de três semanas e da pressão pública que a sindicância finalmente concluiu que a morte não condiz com os valores da empresa? Tá certo, né? Quem precisa de decisões rápidas quando o problema é algo tão trivial quanto a morte de uma pessoa, não é mesmo?
Atualização do código de conduta é suficiente?
Mas, no final das contas, a sindicância concluiu que os seguranças envolvidos não estavam seguindo o “manual de boas maneiras” da ViaMobilidade (sim, existe um manual), e o diretor garantiu que nada no comportamento deles condizia com o “treinamento exemplar” que a empresa oferece. Vale lembrar que essa empresa transporta mais de 850 mil passageiros por dia, o que, aparentemente, não a impede de demitir os agentes quase um mês depois de tudo acontecer.
Mas a situação não ficou só no campo das desculpas. A ViaMobilidade também anunciou que vai promover uma reciclagem em todos os seus agentes de segurança, porque, claro, quando a coisa dá errado, a solução é sempre mais treinamento. Que tal, então, treinar o bom senso? Seria um bom começo, não?
Uma morte, uma prisão: seis envolvidos
Ah, e só para não deixar passar em branco: os seguranças envolvidos na tragédia foram ouvidos pela Polícia Civil, e, pasmem, um deles foi preso. Já os outros, aguardam o que parece ser um futuro de carreira em busca de outro tipo de serviço. No meio dessa novela toda, a família de Jadson, claro, continua pedindo justiça – afinal, o que mais resta depois de perder um ente querido dessa maneira?
A questão, no fim das contas, é simples: o que mais precisamos fazer para que os direitos humanos não se percam no meio de uma sindicância interminável e uma resposta de “vamos melhorar o treinamento”? Um pedido de desculpas por parte da ViaMobilidade seria um começo decente, mas, por enquanto, parece que o máximo que a empresa oferece é um futuro incerto para seus colaboradores e uma lição amarga para todos nós.
E ai, ficou de cara?