Após uma sequência de episódios de violência policial que repercutiram amplamente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assumiu ter mudado sua posição sobre o uso de câmeras corporais na farda dos policiais militares. Nesta quinta-feira (5), o governador afirmou que inicialmente tinha “uma visão equivocada” sobre a ferramenta, mas agora está “completamente convencido” de sua eficácia como instrumento de proteção tanto para a sociedade quanto para os policiais.
“Eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão. Hoje estou convencido de que é um instrumento essencial para segurança e vamos não apenas manter, mas ampliar o programa, trazendo o que há de mais avançado em tecnologia”, declarou o governador.
A decisão ocorre em meio a críticas e casos de grande repercussão envolvendo policiais militares em São Paulo.
Novas Câmeras e Modernização do Programa
Atualmente, as câmeras usadas pelos policiais gravam automaticamente, sem a necessidade de intervenção dos agentes. O governo de São Paulo estuda implementar um novo modelo que permite ao policial ativar a gravação manualmente. Caso o policial não inicie o registro, a câmera também poderá ser acionada remotamente.
Tarcísio explicou que as novas câmeras só serão implementadas após testes rigorosos: “Vamos testar todas as funcionalidades. Não entraremos em operação até termos segurança de que o produto atende ao propósito.”
Enquanto isso, o uso das câmeras atuais será mantido.
Aumento na Violência Policial
A mudança de postura do governador ocorre em um contexto de crescente preocupação com a atuação policial no estado. Segundo o Ministério Público, as mortes causadas por policiais militares aumentaram 46% em 2024, até 17 de novembro, em comparação ao ano anterior.
Casos recentes de violência policial trouxeram forte pressão pública sobre o governo estadual. Entre eles, destacam-se:
- Homem arremessado de uma ponte por um PM: O episódio, registrado por câmeras, mostra um soldado jogando um homem de uma ponte na Zona Sul de São Paulo. A vítima sobreviveu com ferimentos, e o policial foi preso por determinação da Justiça Militar.
- Estudante de medicina morto em abordagem: Um jovem foi morto com um tiro à queima-roupa por policiais militares, ação captada por câmeras de segurança.
- Família agredida em Barueri: Policiais atacaram uma mulher de 63 anos e usaram um golpe de mata-leão — proibido desde 2020 — no filho dela, durante uma abordagem na garagem da residência.
Os episódios chamaram atenção pela brutalidade e pela falta de justificativa aparente, gerando indignação na sociedade e pressionando o governo a agir.
Medidas para Reverter o Cenário
Além de ampliar o uso de câmeras corporais, Tarcísio anunciou que todos os policiais passarão por reciclagem. “Iniciaremos um processo de treinamento para 100% do efetivo. Vamos repassar os procedimentos operacionais e garantir que isso seja internalizado por todos.”
O governador destacou que agentes envolvidos em casos de violência são imediatamente recolhidos à corregedoria e submetidos a processos disciplinares. Ele também reforçou que a segurança jurídica para os policiais não deve ser confundida com um “salvo-conduto” para descumprir regras.
“Quando há descumprimento reiterado de procedimentos, é evidente que existem problemas de treinamento e disciplina. Isso nos choca e entristece. Precisamos de humildade para reconhecer as falhas e corrigi-las”, afirmou.
Desafios e Perspectivas

A adoção de câmeras corporais tem se mostrado uma ferramenta eficaz para aumentar a transparência e reduzir abusos policiais. Estudos apontam que o uso das câmeras ajuda a diminuir a letalidade policial e protege os agentes contra falsas acusações.
No entanto, especialistas alertam que a tecnologia deve ser acompanhada de mudanças estruturais, como melhor formação dos policiais, fortalecimento das corregedorias e políticas que incentivem a atuação pautada em direitos humanos.
O reconhecimento do governador sobre a importância das câmeras corporais e a ampliação do programa representam um avanço, mas os desafios para reverter o aumento da violência policial em São Paulo ainda são grandes.
Com a opinião pública atenta e pressionando por respostas, as próximas ações do governo serão cruciais para definir o rumo da segurança pública no estado.
E aí, ficou de cara? 😁